15.7.17

2 mil anos depois

Estica-se a mão e alcanca-se. Faz-se força e agarra-se.

Os maus ganham. Os bons perdem porque são bons. Porque perdem, os bons têm uma compensação metafísica, a Verdade.

Os bons sabem melhor do que ninguém o que é ser bom, não resistem a ser superiores, mesmo sabendo que é tudo igual, que somos inseparáveis do nosso pior.

Claro que fazer alguma coisa implica uma certa violência. Os maus fazem coisas. Os delicados emitem juízos, que é uma forma de não fazer e de continuar com medo da sua própria força, porque parece que preferimos ser generosos a ser fortes. Mas não. Nenhum corpo é alegre sendo impotente.

A força é má. Se o mundo fôssemos nós, não seria mundo, mas seria bom. É uma pena que o mundo seja mundo, e é bom continuarmos queixosos e infelizes. O mundo é mau, é feito para os maus, devia ser substituído, está errado.

Também temos culpa por tudo o que devemos a nós próprios quando não fazemos. É a culpa mais comum.

Mas nem sempre se ganha, aliás, acabaremos derrotados e sabemo-lo. Enquanto isso não acontece, temos algumas vitórias mesquinhas, e ainda nos podemos consolar com o espírito, os seus juízos, a maldade dos outros, tão bom. Se os outros isto, os outros aquilo, os outros desaparecessem, no limite, seria bom. Enquanto isso, tempo passa e temos mais razões para continuar desiludidos.

Claro que o delicado esconde uma grosseria, mal controlada, de espírito que não encontra saída, não consegue explicar que as coisas sejam como são. Nunca será claro e as vacas pastam com uma mansidão invejável.

Outros repetirão os mesmos argumentos contra a vida. Desviarão o olhar do que não aceitam, falharão em explicar. A metafísica continuará a ser o consolo dos Napoleões que nunca se levantaram da cama.



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