28.11.16

Syrinx fala

Os mesmos discos sempre, tecno-dance,
o mesmo souvenir de nova iorque
janelas de lisboa na parede, a mesma dança
de saliva e suor e chão dormido,
a mesma madrugada do desprezo.
Depois estou junto ao rio, onde turistas
fazem olhos velhacos e procuram
nos mapas a espanhol o que não há;
cheiro um resto de pó e fico vendo
nuvens no céu ali além das pontes
onde o corpo em pedaços me ficou.
Sonho, no fino fio em espiral do fumo,
as madeiras de pinho de outro barco
de âncora solta ao ar movendo o vento
e ao leme, sem culpa nem desejo,
o vigoroso eunuco cantador.


Quatro caprichos, António Franco Alexandre



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