14.2.11

O chão dos pardais



A escrita de Dulce Maria Cardoso é, à primeira vista, límpida, clara e precisa. Cada palavra parece ser imprescindível na frase, o que implica um trabalho cuidado. Porém, as últimas páginas perdem fulgor, cedendo lugar a uma escrita sincopada, mas inexpressiva. A repetição de palavras por si só não amplifica o seu sentido. Terão existido dúvidas quanto ao desfecho do romance. Parece às vezes visualizarmos uma novela televisiva. O narrador não reflecte sobre os acontecimentos; é um estilo, nem bom nem mau. É bom seguir o fluir da narrativa, sem estarmos presos a arrazoados sem saída, ou de desfecho forçado. O problema são algumas pseudo-reflexões, ou a sugestão de densidade semântica onde ela não exista. As personagens não vão a tempo de uma densidade psicológica, embora a ausência de justicialismo (dependente da bondade genuína de Júlio, que  também existe) caracterize fielmente as falhas do nosso mundo imperfeito. A verosimilhança é muito bem conseguida, com um risco um pouco alto (a simplicidade excessiva, isto é, o simplismo que vai pontuando as reflexões do narrador).

Sem comentários:

Enviar um comentário